quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Édipo e Teresa Guilherme: um estudo, by RAP

Li este artigo de opinião há bocado no site da Visão.
Escrito pelo Ilustre Ricardo Araújo Pereira, a quem atribuo uma grande dose de talento literário.
Haja ao menos neste país UM licenciado em Comunicação Social que sabe o que faz (escreve).


Ao que dizem todos os jornais menos um, o alegado estripador de Lisboa é, afinal, apenas um alegado idiota. Na escala de abominações, a idiotia aparece muito abaixo da estripação, e por isso o país desinteressou-se rapidamente do caso: os portugueses têm raras oportunidades de conhecer pessoalmente um estripador, mas todos os dias contactam com idiotas. Mais uma vez constato que sou indigno de pertencer a este povo, uma vez que é precisamente agora que o episódio começa a entusiasmar-me. Não tenho muito interesse em estripadores, mas os idiotas exercem sobre mim um fascínio inevitável. Ainda não podemos dizer ao certo quantos idiotas existem no caso do alegado estripador, mas há dois que emergem imediatamente, e são pai e filho. Feliz coincidência ou hereditariedade? Não sabemos. Mas a concentração de idiotia deve ser celebrada, tanto por razões humorísticas como higiénicas: quanto mais circunscrita a uma mesma casa, maior a intensidade (donde, mais humorismo) e menor o risco de contágio (donde, mais higiene). 
Antes de tudo, há que admitir que, se é verdade que a justiça em Portugal é fraca, não é menos verdadeiro que os tribunais têm azar. Ou lhes aparece um criminoso que, por muito que as provas o desmintam, nega responsabilidades no crime, ou aparece um palerma que, por muito que as provas o desmintam, reivindica responsabilidades no crime. No fim, em princípio, ficam ambos em liberdade. Pergunto-me sempre como é possível que haja sobrelotação das cadeias num país em que é tão difícil ser preso. 
De acordo com a imprensa, o idiota-filho denunciou o pai para poder entrar num reality show. Noutros tempos, os filhos denunciavam os pais à PIDE; hoje, denunciam à TVI. Todo o mundo é composto de mudança, mas os bufos são sempre bufos. Como o idiota-filho desejava ficar preso durante três meses numa casa, tentou fazer com que o idiota-pai ficasse preso durante 30 anos noutra. Édipo matou o pai por causa de uma querela no trânsito; o idiota-filho denunciou o idiota-pai por causa de um programa de televisão. São ambas histórias trágicas, mas a denúncia talvez seja mais cruel uma vez que, não sendo o idiota-pai titular de um cargo público, a confirmar-se a culpa teria mesmo de cumprir pena de prisão. 
É interessante referir que, para serem admitidos no programa, os concorrentes têm de revelar à produção alguns segredos. "O meu pai é o estripador de Lisboa" era o segundo segredo da lista do idiota-filho. Os jornais não revelam qual era o primeiro, mas tudo o que fique aquém de "A minha mãe é um senhor de bigode que invadiu a Polónia em 1939" não merece ultrapassar o segundo classificado.

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